15 de Agosto de 2006
Nem lembro quantas vozes ecoavam naquele espaço restrito. Embora o barulho fosse ensurdecedor ao ponto de ser impossível dizer qualquer coisa, podia escutar meu coração aos saltos como se estivesse preso à minha orelha.
Acho que não dá pra descrever o que senti ou que passou pela minha cabeça. É como se fosse um minuto que demorasse um ano ou um segundo que demorasse um dia.
Ginásio lotado, aos berros, Semi-final de Campeonato do Mundo Feminino, Paços de Ferreira, Portugal. Depois de uma preparação geniosa, esboçada durante duas épocas inteiras pela minha mente fértil, Brasil e Portugal chegavam empatados, sem gols, à disputa dos penalties mais inesquecível da minha vida.
O simples fato de estar ali, por si só, já era uma glória. Embora nunca tenha me destacado como jogador, sempre tive muita vocação na parte técnica e tática.
O Hóquei em Patins existe desde antes de 1900, mas nunca o Brasil conseguira consquistar uma única medalha. Já havia se passado quase um século e não existia qualquer premiação para o nosso Brasil. Nem ouro, nem prata, nem bronze.
E então mais gritos. A torcida gritando um "PORTUGAL" sincronizado e forte. Escolhas feitas, batedores candidatos a heróis ou vilões. Boca seca, coração disparado. Barulho, movimento, tensão. Oração.
Já não sei em que minuto, segundo ou espaço, Mariana faz o gol mais importante da história. Silêncio.
Pode ser que o tempo tenha parado naquele momento. Já não se ouvia uma palavra no meio da multidão. Vencemos. A felicidade era enorme. Na trasmissão ao vivo, os narradores portugueses não se continham. Eu apenas corri. Corri para abraçá-las, reverenciá-las. Naquele momento, sai-se da vida e entra-se na história. Sem a bala.
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