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21 de Novembro de 2013
Diz uma máxima popular que é preciso se desfazer do velho, para dar lugar ao novo.
É verdade.
Quando a gente junta coisa velha, quebrada ou inútil, vai ocupando o tempo e o espaço para o que podia ser renovação.
E logo eu dizendo isso, que sou meio suspeito por ter em casa coleção de gibi, de brinquedos, revistas e outras particularidades. Mas vou tentar me defender, separando, antes de tudo, o sentimental do utilitário.
Utilitário, é tudo aquilo que você usa pra fazer alguma coisa: o leitor de DVD, a panela da cozinha, o carro, a TV antiga, etc.
Sentimental, é tudo aquilo que significa alguma coisa: veio de alguém, marcou um momento ou é uma coleção, como a de pinguins, por exemplo. Aquele presentinho comprado às pressas na lojinha da viagem, aquela latinha da Coca com uma declaração de amor...
Só não vale fazer um utilitário de sentimental: o DVD que ganhou do namorado, a panela que a avó usava...
Eu mesmo tenho vários exemplos. Já percebi que os mais velhos têm a mania de juntar tralha (de parafuso enferrujado à embalagens diversas) porque ainda carregam na alma um tempo onde era muito difícil encontrar alguma coisa.
Hoje em dia, um pulinho na Leroy Merlin, por exemplo (adoro essa loja), permite você encontrar à quase tudo que precisa.
Tem um conto interessante sobre uma flor e o teste para ser o novo guardião da ponte de um mosteiro, que eu já contei aqui. O monge, tentando selecionar o melhor guerreiro, apresentou um vaso com um arranjo belíssimo e explanou: "aqui está um problema". Diante dos olhares desconfiados, ganhou a vaga o samurai que destruiu o vaso imediatamente: problemas precisam ser eliminados - Não importam a aparência que tenham.
Sendo assim, recomenda-se jogar fora aquele vídeo cassete que você prometeu tentar consertar sozinho quando tiver um tempo que nunca vai chegar. Aliás, pra além do fato que você provavelmente não sabe a diferença de um transistor para um capacitor, os VHS já não tem utilidade nenhuma: pesquise no google sobre torrents, subtitles e divx....
Porque, sem perceber, você muda os caminhos da tua vida por causa daquilo que não tem mais sentido. Pode ser deixar de sair com os amigos, porque você decidiu tentar consertá-lo hoje mesmo, ou deixar de comprar o moderno Blu-ray, que seria muito mais útil, porque ainda não tem espaço vazio na estante.
Mas esse tal de desapego não é um exercício muito fácil.
Eu mesmo fiquei 5 anos com um Passat alemão que me tirava o sono diversas vezes - era um carro muito bom pra se desfazer pelo preço que valia, mas ninguém conseguia corrigir seus problemas mais sérios.
Confesso que minha vida mudou depois que eu "dei" ele de presente pra um colecionador (acreditem, mais ou menos isso). Por incrível que pareça, sobrou-me tempo, dinheiro e um lugar na garagem para comprar o carro novo - muito mais moderno e melhor. Recomendo.
Só não se deve fazer isso com pessoas. Embora seja consenso que deva-se deletar permanentemente algumas delas da sua vida, não vejo muito sentido nisso. Guardo as cartinhas da adolescência e fotos de um passado descompromissado.
São coisas que me fizeram ser o que sou hoje - quem não tem passado, não tem presente e nem futuro. Afinal, eu posso seguir em frente com tudas isso, guardado ali no seu cantinho. Porque a minha felicidade depende só de mim.
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